quarta-feira, 8 de junho de 2011

Feira camponesa transforma vida em assentamentos

Produção de pequenos agricultores é vendida na 14ª edição da Feira Camponesa, que começa nesta quinta, com apoio do Governo 

Gilvan Ferreira
Foto: Adailson Calheiros 
Produtos a serem comercializados na feira não possuem agrotóxicos
A 14ª edição da Feira Camponesa, que tem início nesta quinta-feira (9), às 9h, na antiga Praça Faculdade, no Prado, vai oferecer ao público, para venda, 200 toneladas de produtos agrícolas produzidos em vinte áreas da reforma agrária em Alagoas. Agricultores da Comissão Pastoral da Terra (CPT) e de outros  movimentos das regiões da Zona da Mata, Região Norte e Sertão de Alagoas expõem, até sábado (11), a produção de assentamentos.

A cerimônia de abertura da 14ª Edição da Feira Camponesa vai ser comandada pelo coordenador das Pastorais Sociais da Arquidiocese de Maceió, padre Rogério Madeiro. O governador Teotonio Vilela vai participar da solenidade, além de outras autoridades públicas. Um café da manhã vai ser oferecido às autoridades presentes, que conhecerão os produtos que serão expostos à venda na feira. 

Recorde de comercialização 

Este ano, os coordenadores da Feira Camponesa esperam que as vendas dos produtos ultrapassem o recorde de comercialização das outras edições da feira, que é realizada a cada seis meses em Maceió. 

Os agricultores trouxeram para a feira produtos de boa qualidade e que foram cultivados sem a utilização de agrotóxicos. Agrônomos e técnicos agrícolas levaram assistência e orientação à maioria dos assentados que selecionaram para a feira parte de suas produções de inhame, macaxeira, abacaxi, banana, laranja, limão, melancia, batata, abóbora, mamão; hortaliças, milho verde e outros produtos agrícolas. A feira também vai oferecer ao público a possibilidade de comprar produtos da avicultura, suinocultura e apicultura. 

A renda obtida por agricultor, com a venda de produtos durante a feira, é de R$ 400,00 a R$ 2 mil. 

O público também vai poder conhecer um pouco da cultura das famílias dos pequenos agricultores, já que eles farão apresentações culturais, trios de forró e quadrilhas juninas se apresentarão todos os dias. 

Mudança no campo

O objetivo dos organizadores da Feira Camponesa é possibilitar que a população alagoana possa conhecer a história dos pequenos, a luta, as experiências de vida dos pequenos produtores rurais, que buscam o reconhecimento e a desmistificação da luta pela reforma agrária em Alagoas.

Quem for à Feira Camponesa poderá conhecer o exemplo de pessoas como a agricultora Maria José Batista da Silva, que tem uma história de vida muito parecida com a das famílias dos 20 assentamentos da reforma agrária que participam da 14ª Edição da Feira Camponesa. Maria José vive no assentamento Dom Helder Câmara, na Zona da Mata de Alagoas.

Filha de um casal de trabalhadores canavieiros da Zona da Mata alagoana, a agricultora e ex-empregada doméstica Maria José Batista da Silva, 42, passou a ser um exemplo do novo momento vivenciado em regiões rurais em Alagoas. 

Natural de Branquinha, a 65km de Maceió, Maria Batista passou boa parte da sua vida sobrevivendo em condições precárias, já que os pequenos recursos financeiros da família eram provenientes dos trabalhos dos pais no corte da cana nos estados de Alagoas e Mato Grosso, para onde parte da família era deslocada no período da entressafra da cana de açúcar no Estado.

Sem opção de trabalho, Maria Batista teve que deixar a pequena Branquinha e tentar a vida em Maceió, onde, por mais de 20 anos, trabalhou nas “cozinhas” de famílias em Maceió. A renda mensal de Maria Batista, nesse período, não ultrapassava, segundo ela, os R$ 100. Por isso, ela tinha que morar com os dois filhos, “de favor”, nas próprias residências em que trabalhava.

Hoje, proprietária, junto com a família de um lote de sete hectares de terra, Maria Batista superou parte das suas dificuldades financeira. A pequena agricultora garante que o rendimento que retira das suas atividades rurais, que inclui a pequena produção de laranja, banana, coco, inhame, hortaliças e a criação de porcos e galinhas, que são vendidos em feiras de todo o Estado.

 “Passei muito anos, em Maceió, como empregada doméstica em casas de famílias, mas minha vida mudou totalmente, há 10 anos, quando meu pai ganhou o pedaçinho de terra que ele lutou dois anos, acampando na pista com minha mãe e meus irmãos, para realizar o sonho de ter a sua própria terrinha. Depois de muita luta ele assumiu a terra e me disse que não queira que eu trabalhasse mais nas cozinhas dos outros em Maceió. Eu morava nas casas dos outros com meus dois filhos, ganhava muito pouco, passava muitas dificuldades, foi quando eu decidir aceitar a opinião do meu pai e deixei Maceió para viver no pedacinho de terra da gente. Hoje estou muito feliz e não quero mais outra vida”, afirmou a agricultora.