segunda-feira, 9 de maio de 2011

Cisterna-calçadão permite que agricultor produza alimento o ano inteiro

Tecnologia para armazenar água garante irrigação da plantação, produção de alimento e venda para a merenda escolar

Diego Barros

Comunidade é beneficiada com cisterna-calçadão
Algumas famílias de agricultores do Sertão alagoano conseguem produzir alimento o ano inteiro por conta do uso de uma tecnologia para armazenamento de água chamada de cisterna-calçadão. A estrutura é simples, mas necessita de cerca de R$ 7 mil para fazer a implantação, um investimento que nem todos podem pagar.

Dessa forma, dez famílias da comunidade Macena, na zona rural de São José da Tapera, foram incluídas no Programa Uma Terra e Duas Águas (P1+2), em referência aos dois reservatórios que são instalados na propriedade daqueles que são beneficiados pela iniciativa.

O programa é coordenado pela Articulação do Semiárido (ASA), reúne diversas entidades envolvidas na execução de projetos, e visa à melhoria das condições de produção dos agricultores familiares do Sertão e à melhoria da convivência com o semiárido.

Um dos beneficiados da comunidade Macena foi Expedito dos Santos, agricultor de 56 anos de idade que trabalha na propriedade com a ajuda da família. No local foi construído um pequeno açude, uma cisterna com capacidade para até 53 mil litros de água e um calçadão, nas dimensões de 12 por 25 metros.

“Assim, quando chove, toda a água que cai sobre o calçadão vai para a cisterna. E essa água é usada para regar as plantas”, explicou o próprio Expedito. Mas ele ainda esclareceu: “a gente só usa a água da cisterna quando a água do açude acaba”.

“É por isso que o projeto se chama uma terra e duas águas, ou seja, P1+2”, completou o secretário municipal de Agricultura de São José da Tapera, Francisco Pereira, que acompanha, junto com os técnicos da Secretaria, a produção dos agricultores.

Produção irrigada vai para merenda escolar – Segundo Francisco Pereira, toda a produção de hortaliças, frutas e tubérculos de seu Expedito é adquirida pela Prefeitura Municipal para inclusão na merenda escolar. E o agricultor está satisfeito pelo fato de ter um canal de comercialização garantido. De acordo com ele, são mais de mil reais por mês apenas com a venda dos produtos irrigados.

São os seguintes os produtos oriundos da propriedade de seu Expedito que chegam à mesa dos alunos: pinha, goiaba, caju, acerola, mamão, umbu, banana, cebola, coentro, alface, couve, beterraba, repolho, cenoura, quiabo, pimentão, tomate e melancia.

“Com a água pra fazer a irrigação, não falta alimento, mas aqui também não falta trabalho”, disse seu Expedito, enquanto cuidava das hortaliças e das frutas. Ele informou que nem todos os produtos frutificam o ano inteiro, mas estão de acordo com o calendário da Prefeitura solicitado na chamada pública.

O Programa P1+2 tem o apoio da ASA, Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf), Centro de Apoio Comunitário de Tapera em União a Senador Rui Palmeira (Cactus), Programa Fome Zero e Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS).

Criação de ovelhas diversifica a produção – Além de cuidar da terra, das plantas e da venda dos produtos, seu Expedito tem outra atividade diária: cuidar das sete ovelhas que recebeu, por meio de um contrato de empréstimo, do Programa Alagoas Mais Ovinos, que é coordenado pela Secretaria de Estado da Agricultura e do Desenvolvimento Agrário (Seagri).

Ele recebeu os animais em 2010 e conta que já percebe o resultado no ganho de peso. “As ovelhas estão maiores, mais bonitas, e algumas já tão prenhas”, frisou. Perto dali, no assentamento Cacimba Cercada, o agricultor familiar Josué Vieira Soares também tem a missão diária de cuidar das ovelhas que recebeu pelo programa. 

“Das sete, já tenho oito. Nasceu uma cria e as outras ovelhas tão prenhas. O carneiro fica uns 15 dias com elas, depois vai pra outro criador”, explicou Josué Vieira, referindo-se ao sistema de rodízio estabelecido pelas famílias da mesma comunidade beneficiadas pelo Programa Alagoas Mais Ovinos.

“É um carneiro puro de origem, registrado numa associação nacional, para cada grupo de quatro famílias. Assim, elas estabelecem uma rotatividade para uso do reprodutor com suas matrizes. O resultado disso serão animais melhorados geneticamente, para assim melhorarmos e ampliarmos o rebanho do Estado, aumentarmos a oferta de carne no mercado, de couro para o artesanato e de renda para essas famílias”, narrou o secretário de Estado da Agricultura do Desenvolvimento Agrário, Jorge Dantas.

Pelo Programa Alagoas Mais Ovinos, coordenado pela Seagri e com o apoio do Arranjo Produtivo Local (APL) de Ovinocaprinocultura no Sertão, da Associação dos Criadores de Caprinos e Ovinos de Alagoas (Accoal) e das prefeituras, já foram repassados mais de 5 mil animais a 700 famílias de agricultores em quase 20 municípios do Sertão e da Bacia Leiteira.
Em São José da Tapera, foram repassados 350 animais para agricultores de quatro comunidades: Cacimba Cercada, Macena, Passagem do Roque e Logrador.